- Segunda, 06 Abril 2015
Cardeal Orani João TempestaArcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
O Concílio Ecumênico Vaticano II
reafirmou o conceito de Eucaristia como sendo a fonte e o ápice da vida
cristã. Uma expressão muito rica de significados. Dando assim à
Eucaristia seu valor dinâmico e cósmico. Podemos dizer que dela tudo nos
vem e nela tudo ganha consistência. É o canto do livro do Apocalipse,
pois a Eucaristia é a própria presença consumada e resumida de todo o
mistério cristão. Dom supremo que alimentou e continua a alimentar
tantas vidas e a vida de tantos santos, sobretudo os mais ativos em
nosso tempo e também nos tempos passados. Com esta afirmação do Concílio
Vaticano II, podemos até dizer que toda a vida cristã, quando vivida em
autenticidade e plenitude é profundamente eucarística, pois, como bem
nos lembrou o Papa São João Paulo II, “a Igreja vive na Eucaristia e
através da Eucaristia”.
A
Eucaristia é o cume e a fonte da Igreja, seu centro fundamental. Tudo
veio do Pai, tudo a Ele retorna como um cântico espiritual. Tudo Nele
ganha consistência. E este laço de amor trinitário se mostrou visível na
vida do Filho amado de Deus, a Verdadeira e Única Eucaristia do Pai.
O padre De Lubac percebe que é válido
ainda hoje o adágio da Igreja antiga: “Lex orandi instituit Lex
credendi” (A lei da oração constitui a lei do crer), em palavras
simples, a Igreja crê naquilo que ela reza e como ela reza. Neste
sentido, o padre De Lubac observa que quase todas as orações
eucarísticas antigas trazem sempre o sentido de uma dinâmica ao seu
interno, que pede que tanto o pão quanto o vinho transubstanciados sejam
a causa de nossa real transformação no Corpo de Cristo, que é a Igreja.
Esta intuição permitiu ao padre De Lubac distinguir e aprofundar a
própria noção de Eucaristia e de Igreja. A Eucaristia, na compreensão da
Igreja antiga era mais mística e espiritual. O termo místico, que,
naquela época não possuía o mesmo significado que hoje lhe atribuímos,
fazia ver a Eucaristia como um dom autêntico de Deus, capaz de nos
colocar em relação profunda com Deus.
Estes termos e conceitos do primeiro
milênio tornavam possível perceber o claro sentido e a função da
Eucaristia, que era a de nos conduzir para a nossa transformação, a
transformação de nossa humanidade no corpo de Cristo.
Ao vivermos mais uma quinta feira santa
quando celebrarmos a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio é uma
ocasião para aprofundarmos ainda mais em nossa vida a comunhão com
Cristo e com os irmãos.
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB
http://www.cnbb.org.br/outros/dom-orani-joao-tempesta/16216-a-igreja-vive-da-e-na-eucaristia